Não, não vou defendê-lo, de forma
alguma, pela gafe cometida com a atleta Laís. O que eu quero é fazer com
que as pessoas reflitam.
Vi muitos compartilhamentos sobre a gafe
e, todos comentando o quanto o comentário dele foi sem noção e absurdo.
Aí, eu te digo: você certamente já teve o seu momento Huck. Talvez você
não se lembre, talvez vá lembrar agora que eu te fiz forçar a memória.
Talvez não lembre nunca, pois a noção que faltou ao comentar algo do
tipo ainda está lhe faltando.
Achei a resposta da
atleta até delicada, ao dizer que "deve ser a única vantagem", quando
ele disse que pelo menos agora ela não ia sentir mais a dor da tattoo. Ela
poderia ter dito "preferia sentir". Mas até que dá no mesmo, pensando
bem. Eu entendi que ele quis "consolá-la" dizendo "olha, tem uma coisa
boa no meio disso tudo", entendi, mesmo que tenha sido um tiro no pé. E
sabe por que foi? Porque SEMPRE É. Porque não, colocando na balança, NÃO
é vantagem não sentir a dor da tatuagem, já que tem muitas outras
coisas que ela não pode sentir. E pra piorar, quando é algo recente,
esse tipo de comentário tem impacto mais negativo ainda. A pessoa ainda
está digerindo o que aconteceu, ainda lamenta, sente saudades "do que
era" (sim, entre aspas, porque, um dia, ela descobre que ainda é a mesma
pessoa), provavelmente ainda chora todos os dias, mesmo que diga que
não.
Acho que muita gente precisa olhar pra dentro de si, achar seu "Huck" e eliminá-lo.
Eu já ouvi de MUITA gente, MUITOS
amigos, inclusive, comentários desse tipo. Eu ainda não sei se é pelo
desconforto que as pessoas sentem ao falar em um assunto delicado, não
sei se é pela "obrigação" que elas sentem em "nos consolar", como se
toda vez em que falamos em deficiência estamos reclamando. Na verdade, na
grandessíssima maioria das vezes, estamos nos vangloriando de
superações, de descobrir que aquele limite imposto pelos outros, está
apenas na cabeça dos outros.
Quando eu digo que meu
filho ainda não faz tal coisa, ou que outra coisa ele nunca fará, eu
não quero ouvir "MAS...". Eu falo porque sou realista, não porque estou reclamando e precisando "ver o lado 'bom' disso".
Normalmente,
escuto: "ah, pelo menos ele não é bagunceiro", "sua casa está sempre
arrumada", "ele te deixa tomar banho", "não precisa ficar correndo atrás
dele o tempo todo"... Por aí vai. Eu costumo ficar
meio chocada em como isso poderia me servir de consolo. Apenas
falo que um dia ele vai fazer tudo isso.
Pois deixa eu explicar: ele bagunça o quarto dele
sim. Meu banho na maioria das vezes pode ser tranquilo, mas tem dias que não consigo lavar os cabelos, dias que nem banho consigo tomar, igual a qualquer mãe. Meu almoço é
sempre adiado também. Minhas noites de sono são péssimas e,
isso não vai passar. Colocando na balança, não, eu não prefiro poder tomar um
banho de 15 minutos porque meu filho fica quieto, deitado, esse tempo.
Ele
só fica quieto porque não anda. Não, eu não prefiro que minha
sala fique sempre arrumada, se eu pudesse escolher, ela viveria
bagunçada. E sim, eu preferia correr atrás dele o tempo todo, do que
viver aflita pensando 'será que ele vai conseguir?'." E eu luto
justamente para que isso aconteça.
Acha cansativo ter que repetir 10 vezes a mesma coisa para ensinar seu
filho? Eu provavelmente vou repetir por meses ou anos. Ou a vida toda. E
você nunca me viu reclamar disso. Você me viu comemorar quando ele
aprendeu a dar tchau. Foram 3 anos ensinando-o. Quando você me vê
desabafar, dizer que é difícil conviver com a deficiência cognitiva, não
passa de um desabafo mesmo. Creio que a única reclamação que me viram
fazer foi a de não dormir há quatro anos. E ainda assim, demorei a
sentir isso me atrapalhando.
Precisa ficar claro: Qualquer alegria que ele me dá, é muito maior do que qualquer angústia. Tanto que só consigo focar nas coisas positivas. Não sobra espaço para lamúrias. Como eu sempre digo, o amor supera qualquer
dificuldade que tenhamos por aqui. Qualquer uma mesmo. Eu agradeço por
cada mini evolução que ele tem. Não pense que eu invejo algum filho alheio, pois eu não
trocaria ele por ninguém.
O meu único problema é não ser imortal enquanto ele dure.
Então, não precisamos de consolo, não precisamos de "MAS...". Precisamos de compreensão, apenas isso.
O melhor texto que vc escreveu! Adorei!
ResponderExcluirOlha, achei lindo seu texto. ....mas é duro para o outro lado também. Meu filho tem um problema de audição e eu também ouço os MAs, mas....MAS sabe, o que o outro lado deve dizer ?: "Puxa, que azar o seu né....ou dizer: Nossa, coitada de vc. Que sofrimento " Acho que às vezes cabe a nós , a quem está do lado de cá, entender quem está do lado de lá. Desculpe, não quis parecer rude...a vida é que é complicada né...
ResponderExcluirMas foi exatamente o que eu quis dizer com o texto. Mostrar o que a pessoa do outro lado pode estar pensando. Mas eu faço questão de dizer porquê ela está equivocada e não consigo me conformar apenas com "o mundo é assim mesmo", pois nós que construimos o mundo 😉
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